Em 2009, o anúncio da escolha do Rio de Janeiro como cidade-sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 foi recebido com festa no Brasil. O projeto inicial estimava um orçamento de R$ 28,8 bilhões (o mais caro dentre as candidatas) e promessas de oportunidades para o crescimento da cidade, além do ineditismo da realização do maior evento esportivo do planeta na América do Sul.
Seis anos e muitos problemas depois, o cenário é bem diferente. A prosperidade e crescimento do País vistos em 2009 deram lugar a um período de crise econômica e diversas incertezas. O momento político ganhou os holofotes da mídia e, para piorar, uma epidemia de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, em especial a infecção pelo Zika vírus, contribuiu para manchar a imagem do País mundialmente, já prejudicada pela onda de violência.
No Rio de Janeiro, apesar de a Prefeitura alegar estar com as contas em dia, o governo estadual declarou estado de calamidade pública, sem recursos para pagar servidores ou honrar compromissos com os Jogos. O projeto inicial teve uma alta no orçamento de mais de R$ 10 bilhões, com 56,9% vindos da iniciativa privada e outros 43,1% dos cofres públicos, sendo a maior parte deste investimento destinada a obras de infraestrutura e mobilidade urbana, como a construção dos corredores de ônibus do tipo BRT (Bus Rapid Transit) e do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que interliga o Centro do Rio de Janeiro.
A expectativa é que o Rio receba 243,1 mil turistas estrangeiros, segundo previsão da CNC, além de ganhar visibilidade com os mais de 4 bilhões de espectadores da Olimpíada em todo o mundo. A cidade ainda será explorada por mais de 25 mil jornalistas que devem desembarcar no Rio para cobrir o cotidiano da cidade, além do âmbito esportivo. Apesar dos percalços, os Jogos são uma grande oportunidade para o Brasil ganhar projeção e força como destino turístico. No entanto, o principal medo é de que o momento passe e, no fim das contas, o retorno seja menor que o esperado.
“Empresários do trade turístico, especialmente da indústria hoteleira, fizeram grandes investimentos e é fundamental que os turistas gostem daqui e que voltem para seus países falando bem, para que mais e mais visitantes venham para cá, mantendo o fluxo desses empreendimentos, os postos de trabalhos gerados e ajudando a melhorar nossa economia”, afirmou o deputado Herculano Passos, presidente da Comissão de Turismo da Câmara, durante visita ao Parque Olímpico realizada em junho.
Dever de casa incompleto
Para a população carioca, os investimentos em mobilidade e infraestrutura urbana devem ser os grandes legados da Olimpíada, além das arenas esportivas que podem servir, no futuro, para gerar e atrair atletas de alto nível para treinamentos e competições. Já para o País, o cenário não é tão animador.
A cadeia do turismo receptivo (que compreende hospedagem, alimentação, transportes, entre outros) realizou investimentos de mais de R$ 10 bilhões no Rio de Janeiro nos últimos cinco anos. A estimativa é de que a rede hoteleira carioca some mais de 38 mil quartos na cidade, 12 mil apenas na região da Barra da Tijuca, onde fica o Parque Olímpico que vai receber boa parte das modalidades esportivas. Para o período da realização da Olimpíada, de 5 a 28 de agosto, a taxa de ocupação da hotelaria já chega bem próximo dos 100%. “Com a ocupação quase total, a receita da hotelaria já foi recebida, com todos os quartos ocupados já pagos”, afirmou o presidente do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Alexandre Sampaio.
Se o evento funciona como chamariz natural de turistas, que são atraídos pelos esportes ou atletas que vão desembarcar no País, a divulgação do destino Brasil em outros países não foi tão bem realizada. “Tenho conhecimento de ações pontuais para promover o Brasil pelo mundo, aproveitando os Jogos, mas não de uma estratégia formal e abraçada por todos que trabalham no Turismo”, afirma Jeanine Pires, ex-presidente da Embratur e consultora do setor de turismo e eventos. “Desde 2011 que as políticas da Embratur e do Ministério do Turismo sofrem com descontinuidade de lideranças e, principalmente, de estratégia e recursos”, continuou Jeanine.
“Perdemos uma grande oportunidade”, afirmou Alexandre Sampaio. “A salvação será a divulgação da mídia internacional que está vindo para cá. Uma ideia é que entidades regionais convidem os jornalistas que não estarão cobrindo os esportes para visitar outras cidades do País, para que eles possam conhecer outras opções turísticas”, completou.
O Brasil atualmente investe de 20% a 30% menos do que outros países latino-americanos em promoção internacional. No ano passado, o orçamento da Embratur para promoção internacional foi de US$ 17 milhões, enquanto o México destinou US$ 477 milhões. Segundo o presidente do órgão, Vinicius Lummertz, a limitação de recursos exigiu um esforço maior na promoção internacional. “Foram realizadas press trips e divulgações do destino Brasil ao longo de 2015, além do envio de notícias para todo o mundo por meio de agências. O que eu me ressinto é não termos feito uma campanha com um marketing mais agressivo, pois o foco político impediu a continuidade do trabalho. Isso teria prolongado o efeito positivo da agenda por mais tempo, mas não invalida a força da Olimpíada por si só”, afirmou Lummertz, que deixou o cargo na Embratur em março, retornando em julho.
Fonte: CNC