Os empresários e executivos que integram a Câmara Brasileira de Tecnologia da Informação (CBTI) participaram, em 9 de outubro, em Brasília, de intenso debate e dinâmica de grupos sobre os desafios do comércio eletrônico em tempos de crise econômica.
Destaque da reunião, a palestra do presidente da Cisco do Brasil, Rodrigo Dienstmann, sobre os avanços no País da Internet of Everything (IoE – a internet de todas as coisas) mostrou o potencial, tanto de crescimento como de desenvolvimento dos negócios para o varejo, por conta da conexão cada vez maior de equipamentos à internet. “O aumento é exponencial”, frisou.
“Isso significa na prática que objetos cotidianos, como o nosso carro, a geladeira, a televisão, uma peça de roupa, um equipamento hospitalar podem estar conectados à internet e geram uma transformação do modo como empresas fazem negócios.” O comércio e os serviços podem ter muitos benefícios com essa tecnologia, garantiu.
Dienstmann deu o exemplo: quando o varejista coloca sensores nas mercadorias do supermercado, fica com a visão em tempo real do que está sendo consumido, em quanto tempo e como se comporta o estoque. Com isso, ele pode planejar suas operações e investimentos. “A internet de todas as coisas cria valor, porque modifica positivamente os processos e os negócios das empresas.”
Ele destacou finalmente que a IoE pode ser de muita valia para micro e pequenas empresas, que são maioria no Brasil, tendo em vista o barateamento de custo da tecnologia de sensores para conexão à internet estão muito baratas. O pequeno lojista, explicou, pode instalar uma rede de wi-fi, que não se limitará apenas a ser uma ferramenta para dar acesso à internet, vai funcionar como um sensor do movimento da loja, controle de estoque, criação de processos e planejamento.
Já o presidente do Conselho de E-commerce da Fecomércio-SP, Pedro Guasti, falou sobre as vendas no comércio eletrônico, que globalmente movimentaram US$ 1,5 trilhão, em 2014, chamando a atenção para o recuo na previsão de negócios para o Brasil, que ficará abaixo do comportamento que vinha sendo observado, quando chegou a 30%, há dois anos. “O crescimento projetado para 2015 é em torno de 15%, com faturamento de R$ 41,2 bilhões, que é bom considerando-se que o mercado como um todo”, disse.
Também vice-presidente de Relações Institucionais do Buscapé/E-bit, Guasti informou que, no início deste ano, foi estimado um crescimento nominal de 20%. O consumidor de comércio eletrônico está concentrado no público A e B, mas nos últimos anos a nova classe C vinha se somando, “mas, atingida pela crise econômica, perdeu poder de compra e emprego e isso se refletiu nos negócios”.
Ele deu uma série de sugestões para os empresários que trabalham com e-commerce enfrentarem a crise. Entre elas, rigoroso controle de despesas, muita cautela com investimentos, evitar empréstimos bancários, renegociar e buscar novos nichos no mercado.
O presidente da Associação Brasileira de E-commerce (ABComm), seção Santa Catarina, Cristiano Chaussard, falou sobre o anteprojeto do Código de Autorregulamentação do Comércio Eletrônico, documento que, segundo ele, estabelece recomendações a lojistas, consumidores e fornecedores. “Será um marco estabelecido pelo próprio setor. Ninguém conhece melhor o seu mercado do que quem está dentro do próprio mercado., explicou.
A iniciativa, de acordo com Chaussard, vai mostrar o caminho ético e aumentar a qualidade do mercado de vendas online, além de estabelecer padrões de qualidade para os varejistas e atacadistas que negociam na internet. Trata-se de um instrumento de consulta, no qual será seja possível, num só documento, entender quais são os caminhos corretos. “Teremos respostas para qual caminho seguir ao construir um portal de e-commerce, o procedimento a ser adotado se surgir algum problema jurídico ou conflito com o consumidor”, adiantou.
Num balanço da reunião, o coordenador da CBTI, Francisco Saboya, criticou “os gargalos” para o desenvolvimento tecnológico. “O principal deles é não temos uma política nacional de banda larga, o que nos impede de sermos competitivos no mercado mundial”, afirmou. Segundo ele, não dá para fazer uma transação eletrônica com a velocidade de navegação disponível. “Temos uma internet ruim e cara”, sentenciou.
Para Saboya, por conta de problemas assim, o Brasil perde espaço. Ele citou que 74% dos internautas estão nas redes sociais, mas só 30% dos empresários tem alguma presença nas redes sociais e 13% tem alguma atividade no comércio na internet. “São números desanimadores e que precisam ser revertidos”, afirmou.
O coordenador disse ainda que a Câmara é um foro de proposição e está realizando um trabalho, que será levado à CNC, visando ações de envergadura nacional, para aumentar o uso de plataforma de e-commerce pelo varejo. O secretário-geral da CNC, Marcos Arzua, concordou com Saboya. “É uma Câmara nova, mas que já alcançou grandes avanços. O objetivo planejado está sendo aos poucos alcançado. Sugestões são sempre bem-vindas porque essa é uma das formas de a CNC se aproximar ainda mais do setor produtivo que representa.”
Fonte: CNC